O futuro da ITV não se esgota no fabrico de calças e camisas, lençóis ou edredões. A têxtil já começou a invadir outros sectores, como o dos transportes, a saúde e até a construção civil. Fibras naturais de linho e cânhamo entram na composição da estrutura dos carros da série I da BMW. Sensores integrados no vestuário monitorizam em permanência órgãos do corpo humano, substituindo com vantagem exames médicos. E na reabilitação de estádios para o Mundial do Brasil foram usadas estruturas têxteis. Não, não é ficção científica, há vida na têxtil para além da roupa.
É com a expressão proverbial “sim, mas…” que Braz Costa, director-geral do CITEVE responde à pergunta do mês do T. É precisamente neste centro de investigação, em Famalicão, que são desenvolvidos projectos em parcerias com empresas visando melhorar as performances tecnológicas da ITV e encontrar vida para o têxtil além da roupa.
Engenheiro mecânico e gestor de formação, Braz Costa alude aos mais de 130 mil trabalhadores que a ITV emprega em Portugal. Ora, no imediato, os caminhos que se começam a desbravar noutras áreas para o têxtil, como os transportes, a construção e a saúde, não constituem uma via tão larga como a actual.
“Áreas como a dos interiores automóveis, do desporto e da protecção individual vão crescer. Mas a saúde e a construção/arquitectura vão andar mais devagar”, explica Braz Costa.
É precisamente na área da protecção individual que Raul Fangueiro, professor da Universidade do Minho e coordenador da Fibrenamics, entende haver também um novo caminho para o têxtil. A instituição onde lecciona integra o projecto de investigação Auxdefense lançado pelo Ministério da Defesa que, resumidamente, pretende revolucionar o equipamento militar dos pés à cabeça. “No fundo é como substituir a malha de aço usada pelos guerreiros da Idade Média por material muito mais eficaz, leve e confortável. Tudo isto monitorizável de forma a perceber questões como o nível de stress, saúde, posicionamento, etc”, descreve.
Ao mesmo tempo, Fangueiro considera que esse passo em frente, que será dado no equipamento dos militares irá abrir caminho para a protecção pessoal dos cidadãos no seu vestuário do dia-a-dia, através de um sistema “soft” e “imperceptível” que evite as consequências do sopro de pequenas explosões, estilhaços, ou mesmo do uso de armas brancas.
Este professor universitário adianta que os transportes, designadamente os aviões e os automóveis, são já um exemplo da vida do têxtil para além do vestuário. Fangueiro prefere, porém, falar em fibras, polímeros e materiais compósitos. Por exemplo, no Airbus A380 cerca de 50% da sua componente estrutural são fibras, que substituíram o aço. “Houve uma redução de peso, de consumo e um aumento da performance”, explica. Na série I do BMW (carros eléctricos) toda a parte estrutural é feita em fibra de carbono, sendo ainda utilizadas fibras naturais como o linho e o cânhamo.
Além da mobilidade eléctrica e de não necessitar de condutor, o carro do futuro terá uma interactividade com o utilizador, podendo variar a cor dos estofos, a sua textura, a temperatura, mas também utilizará materiais com capacidade de regeneração, de forma a que um “arranhão” ou uma pequena “amolgadela” desapareçam.
Na área da saúde, as fibras têxteis já estão presentes nas próteses rígidas ou em fármacos que podem ser introduzidos no corpo através de sensores colocados no vestuário, isto, entre outros exemplos. Raúl Fangueiro acredita que no espaço de uma década será dado o salto para o interior do corpo humano, desde as artérias, a tendões ou órgãos como o fígado ou os rins. Com a vantagem acrescida de poderem ser todos monitorizados de forma a perceber o estado desses novos órgãos (ou de todo o corpo) sem fazer exames médicos.
A área da construção/arquitectura é outro dos caminhos a seguir, segundo este professor. De resto, uma arquitecta da qual Fangueiro foi orientador de mestrado ganhou um dos prémios de inovação da Techtextil de Frankfurt deste ano precisamente por um projecto de painel de arquitectura feito com têxtil.
A utilização de estruturas têxteis na construção não é uma questão de futuro, é o presente. Nos estádios reabilitados no Brasil para o último Mundial de futebol foram usadas essas estruturas têxteis. Mesmo em Portugal, um edifício em Vila do Conde que ameaçava ruir por corrosão do aço das vigas viu o problema resolvido substituindo o aço por BCR, feito com materiais têxteis.
Hélder Rosendo, director-geral da empresa P&R Têxteis, considera que “o driver para o crescimento da utilização de materiais têxteis em aplicações técnicas passará sempre pela identificação e sustentação das vantagens comparativas que apresenta intrinsecamente relativamente a outros materiais”.
Rosendo “não retira dessa equação” o factor preço, “particularmente importante por exemplo no sector da mobilidade/transportes ou no habitat/construção”. Mas também “a flexibilidade, a capacidade de os customizar, a possibilidade de lhes conferir propriedades e funcionalidades adicionais e a existência de uma fileira produtiva madura, capaz de assegurar continuidade e reprodutibilidade de fornecimentos, são factores importantes para o crescimento do número e tipo de aplicações”.
Acrescenta ainda que “o facto de serem produtos com um elevado conteúdo de I&D e com uma forte componente de engenharia, também torna estes produtos mais interessantes e com um maior valor de mercado”.
O director-geral da P&R Têxteis cita estudos recentes, nos quais “a mobilidade/transportes e a saúde são os mercados com maiores potenciais de crescimento, em grande parte suportados pelo desenvolvimento de economias emergentes”. Em todo o caso, acredita que os têxteis técnicos, continuarão a ser sinónimo de três coisas para ITV nacional: crescimento, inovação e valor.
Fernando Merino, director de Inovação da ERT, começa por fazer uma radiografia do sector automóvel: “As principais marcas estão a investir muito para integrar a sustentabilidade nos modelos de negócio, porque vêm os desafios globais da sustentabilidade como uma oportunidade para desenvolverem produtos e serviços inovadores. Mas de uma forma ampla, as grandes tendências para o interior dos automóveis assentam em conceitos e tecnologias que vão materializar-se em produtos de base tecnológica, acima de tudo orgânicos, mais eficientes, inteligentes e em que as superfícies são uma nova fonte de funções energéticas”.
E sublinha também que “há uma visão de futuro muito baseada em fibras naturais e em novas fibras, mas também de novas fontes para as matérias-primas a partir de matéria vegetal e animal, das quais também se podem obter desempenhos essenciais enquanto materiais de aplicação técnica num automóvel”.
“Desde logo o baixo peso, mas também o conforto e o desempenho funcional, na linha daquilo que se visiona como sendo a mobilidade do futuro, muito baseada nas experiências a bordo. A funcionalização dos materiais tradicionais, como o têxtil, o PVC e o couro e também a sua adaptação ao design e processos generativos, aditivos e robotizados é também um caminho e um desafio mais imediato na cadeia de fornecimento do sector automóvel”, enuncia.
João Mendes, da A. Sampaio & Filhos, admite que a empresa tem em curso “projectos enquadrados no âmbito mais estrito da definição de têxteis técnicos, no sentido em que se destinam a outra aplicação que não o fabrico de vestuário”, mas que focou a participação na Techtextil no segmento definido pela feira como “Protech” (têxteis destinados ao fabrico de equipamento de proteção individual).
“A auscultação dos utilizadores finais permite-nos entender que quem tem necessidade de utilizar vestuário de protecção durante longas horas por dia precisa – e muito – de materiais leves e confortáveis. Daremos destaque na Techtextil à nossa marca Protection+, segmentada por tipo de fibra e de utilização final: protecção contra calor e chama e protecção contra os efeitos térmicos do arco elétrico, alta visibilidade”.
Em todo o caso, acredita que os têxteis técnicos, continuarão a ser sinónimo de três coisas para ITV nacional: crescimento, inovação e valor.
Fernando Merino, director de Inovação da ERT, começa por fazer uma radiografia do sector automóvel: “As principais marcas estão a investir muito para integrar a sustentabilidade nos modelos de negócio, porque vêm os desafios globais da sustentabilidade como uma oportunidade para desenvolverem produtos e serviços inovadores. Mas de uma forma ampla, as grandes tendências para o interior dos automóveis assentam em conceitos e tecnologias que vão materializar-se em produtos de base tecnológica, acima de tudo orgânicos, mais eficientes, inteligentes e em que as superfícies são uma nova fonte de funções energéticas”.
E sublinha também que “há uma visão de futuro muito baseada em fibras naturais e em novas fibras, mas também de novas fontes para as matérias-primas a partir de matéria vegetal e animal, das quais também se podem obter desempenhos essenciais enquanto materiais de aplicação técnica num automóvel”.
“Desde logo o baixo peso, mas também o conforto e o desempenho funcional, na linha daquilo que se visiona como sendo a mobilidade do futuro, muito baseada nas experiências a bordo. A funcionalização dos materiais tradicionais, como o têxtil, o PVC e o couro e também a sua adaptação ao design e processos generativos, aditivos e robotizados é também um caminho e um desafio mais imediato na cadeia de fornecimento do sector automóvel”, enuncia.
João Mendes, da A. Sampaio & Filhos, admite que a empresa tem em curso “projectos enquadrados no âmbito mais estrito da definição de têxteis técnicos, no sentido em que se destinam a outra aplicação que não o fabrico de vestuário”, mas que focou a participação na Techtextil no segmento definido pela feira como “Protech” (têxteis destinados ao fabrico de equipamento de proteção individual).
“A auscultação dos utilizadores finais permite-nos entender que quem tem necessidade de utilizar vestuário de protecção durante longas horas por dia precisa – e muito – de materiais leves e confortáveis. Daremos destaque na Techtextil à nossa marca Protection+, segmentada por tipo de fibra e de utilização final: protecção contra calor e chama e protecção contra os efeitos térmicos do arco elétrico, alta visibilidade”.
in Jornal T