(A)Mar Portugal em Paris

(A)Mar Portugal em Paris

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Mar, tradição, diversidade, coragem, cultura, história, saudade, estilo e moda… Os portugueses, designers e marcas, estiveram dois dias em Paris no Showcase ModaPortugal e colocaram no pedestal o orgulho, a criatividade, o design e o know-how que tornam o nosso país único e excecional.

O filme “Les Portugais” abriu as portas ao universo da portugalidade, não o do folclore e do futebol, mas o do estilo e da moda. Sem esquecer a saudade ou o mar indiscutivelmente associados à alma lusitana – este último recriado em instalação própria, com a imagem e o som do Atlântico que abraça a costa ocidental –, foi de design que se falou, se viu e se tocou, numa ode aos sentidos, na Galerie Perrotin, em Paris.

O Showcase ModaPortugal – uma iniciativa promovida pelo CENIT em parceria com a Anivec, a Apiccaps, a Aorp e a ModaLisboa e com a chancela do Portugal 2020 – celebrou, a 23 e 24 de junho, 27 designers e marcas de moda portuguesa, incluindo vestuário, calçado, joalharia e lifestyle (ver ModaPortugal em três frentes), na capital francesa, que por sua vez exaltava o eterno masculino.

«[Este evento] foi pensado numa lógica coletiva, quase como uma miniembaixada daquilo que é o mood português contemporâneo, que sabe pensar, que sabe construir, que sabe fazer e que também tem alguma coisa de tradicional nas suas técnicas, mas que é um Portugal moderno», destacou, ao Portugal Têxtil, Eduarda Abbondanza, curadora do Showcase ModaPortugal.

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Foto: Gonçalo Silva

A organização do espaço convidava à descoberta, sem urgência, de cada peça exposta. A sala magna, com uma instalação da artista portuguesa Wasted Rita, acolhia, de um lado as propostas de moda dos designers e das marcas de vestuário, do outro, paredes meias, as propostas das marcas de calçado e acessórios.

«É uma excelente experiência», resumiu Pedro Monteiro, fundador da Litoral. A marca portuguesa de outerwear, fundada em 2015 e apoiada no 100% made in Portugal (ver Litoral de norte a sul) mostrou «as peças mais fortes da coleção» para a primavera-verão 2018. «Tentei ir buscar bons materiais e, acima de tudo, confortáveis. A base da coleção é o 100% algodão mas introduzimos alguns algodões/linho nas camisas e temos também 100% linho», revelou ao Portugal Têxtil.

A marca de moda de autor Filipe Faísca viajou para Paris com uma surpresa na mala: uma linha de pronto-a-vestir, com blusas, vestidos, calças e acessórios, «feita em fábrica, desenhada e criada pelo Filipe, com preocupações em termos de acabamentos e detalhes, com grande qualidade, mas a preços mais acessíveis», explicou Nuno Anjos, sócio do designer de moda.

«Estamos aqui presentes para mostrar o nosso valor», afirmou, por sua vez, Marco Lusquiños, o futuro diretor da marca de calçado Nobrand. O Showcase ModaPortugal, acredita Lusquiños, serve «para as pessoas se aperceberem do que é que se cria em Portugal e que não somos só um país de produtores. Somos um país extremamente criativo, com grandes ideias, grandes avanços tecnológicos até na área da industria. É uma oportunidade para toda a gente que participa na Semana de Moda de Paris».

Excelência reunida

A mostra «eclética, mas com excelência», como descreveu Eduarda Abbondanza, contou com centenas de visitantes nos dois dias, que não só percorreram os diferentes espaços e contactaram de perto com os criativos e responsáveis das marcas, como assistiram aos “quadros vivos” com a apresentação das coleções masculinas dos designers Ricardo Andrez, Luís Carvalho, Ricardo Preto e Nuno Gama para a próxima estação quente.

Ricardo Andrez Foto: Ugo Camera

As memórias da infância inspiraram as propostas de Ricardo Andrez nesta que foi a sua primeira apresentação em Paris. «Acho que é importante estarmos aqui e dizermos “somos estes e fazemos isto”», afirmou o criador, que espera poder reiterar a experiência. «Se houver continuidade, então terei todas as ambições e expectativas possíveis», assegurou.

Luís Carvalho Foto: Ugo Camera

No espaço exterior da Galerie Perrotin, a estreia de Luís Carvalho não poderia ter sido mais perfeita. “Eagle Eye”, no nome da coleção, inspira-se nas águias, presentes em bordados mas também nas texturas das peças, a que se soma o look safari, nos bolsos e nas cores. «Achei que o espaço tinha a ver com a coleção e acaba por ser mais interessante esta apresentação mais descontraída – as pessoas acabam por preferi-la face a um desfile normal», confessou o designer, que venceu o Globo de Ouro para Melhor Estilista em maio (ver Luís Carvalho vence Globo de Ouro) e acalentava o sonho de mostrar o seu trabalho em Paris. «Por isso é que estou sempre a dizer que é importante sonhar, porque é assim que conseguimos alcançar os nossos sonhos», realçou.

Ricardo Preto Foto: Gonçalo Silva

No espaço “invadido” pelo mar – instalação criada por Eduarda Abbondanza –, Ricardo Preto mostrou as suas propostas para homem, mas a força do coletivo, garantiu, é o grande destaque. «Passou tudo por ser um grupo de portugueses em Paris a mostrar o que fazemos ao mundo – essa é, para mim, a importância de eventos como este», revelou ao Portugal Têxtil. O designer, que está a trabalhar também com os grandes armazéns filipinos Rustan’s (ver A linguagem universal de Ricardo Preto), não hesitou na hora de avançar para Paris, face às pessoas dinamizadoras no projeto. «Vir apresentar as minhas coleções numa estrutura destas, com o CENIT e a ModaLisboa, foi uma coisa que me inspirou e me fez acreditar que não vinha a Paris passear, vinha trabalhar», explicou. «A Eduarda é uma mulher em quem tenho muita confiança, como líder e como diretora, e que me inspira na minha maneira de estar», confessou, acrescentando ainda que «por trás do CENIT está um dos homens do Norte em quem eu mais acredito em termos de liderança, porque acho que nem toda a gente nasceu para ser líder».

Nuno Gama Foto: Gonçalo Silva

O último “quadro vivo” juntou as coreografias de Olga Roriz com os códigos criativos de Nuno Gama, onde pontuaram os tons dos azulejos e do céu de Lisboa, as tradições do Minho mas também a consciência ambiental, face às alterações climáticas. «A ideia é continuarmos a ter um casaco bonito e bom, mas que seja ultraligeiro e ultraleve, com uma construção mínima e essencial para manter um look elegante, com pinta e distinto», apontou o designer. «É importante trazermos a nossa linguagem, a nossa estética, a nossa forma de ver o mundo para o mercado internacional», destacou.

Receber e voltar a dar

Esta mostra da portugalidade em todas as suas vertentes moda – vestuário, calçado, joalharia e lifestyle – foi «inédita» e «bem sucedida logo na estreia», reconheceu Manuel Lopes Teixeira, CEO do CENIT, e, por isso, faz sentido repetir. «Este é um caminho muito interessante para a moda portuguesa», afirmou, destacando «a forma como a moda industrial conviveu de forma profícua com a moda de autor, adicionando uma faceta de design ao know-how pelo qual Portugal já é reconhecido».

O Showcase ModaPortugal, acrescentou o CEO do CENIT, poderá ainda ser «a pedra basilar de uma estratégia para o futuro, assente na integração dos pilares do vestuário, calçado e joalharia», até porque, «o impacto na comunicação social, nacional e estrangeira, e em termos de buyers foi enorme».

Um caminho que as restantes associações querem continuar a palmilhar e a partilhar. «Se conseguirmos juntar as competências e as experiências de diversos sectores, vamos, com certeza, deixar de ser uma migalha e passar a algo importante», acredita João Paulo Pinto Machado, vice-presidente da Anivec.

«Quando olhamos para o futuro, cada vez mais temos dificuldade em entender como é que se consegue construir sem confiança num conjunto de parceiros que têm, digamos assim, um percurso igual ao nosso e que promovem produtos que se identificam muito connosco. Acho que estamos a começar muito bem», assegurou, por seu lado, Manuel Carlos, chairman da Apiccaps.

Para Eduarda Abbondanza, aliás, esta não deve ser uma experiência conjugada no singular. «Para mim, um projeto só faz sentido se tiver continuidade. Em moda tudo tem, pelo menos, três vezes, três estações. O número três na moda determina que nada conta se não tiver pelo menos três. Portanto, tem de ser replicado, até porque este foi um teste, foi o primeiro», explicou, abrindo assim as portas a uma segunda edição para breve…

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