Os jeans de estética retro, que são confortáveis mas não lisonjeiam, os sapatos robustos, as silhuetas desproporcionais, o maximalismo e os acabamentos excessivos integram a oferta da “ugly fashion” ou da moda que se pauta pela fealdade. Os opostos atraem-se ao que parece, também, em passerelle.
«Ugly fashion [ou moda feia, em português] significa não ao mainstream – não ao que todos estão a vestir, não ao que a população em geral considera como “na moda”», resume Megan Collins, da empresa de previsão de tendências Trendera, em declarações ao portal de moda Fashionista. «A conversa entre moda, beleza e fealdade sempre existiu, mas esta é a primeira vez que vivemos numa cultura onde tantas pessoas participam dessa conversa», completa.
Entretanto, há uma diferença entre a moda feia e a roupa feia, como destacou a stylist de celebridades Dani Michelle. «A moda feia refere-se a uma determinada tendência, década ou design que podem não ser os mais lisonjeiros nem esteticamente deslumbrantes», explica, ressalvando que roupa feia são, somente, peças mal desenhadas.
Como se chegou à moda feia?
Há muitos fatores influenciadores, mas o principal pode ser rastreado até ao auge do normcore, a atitude antimoda que, ironicamente, se assumiu tendência há cerca de três anos.
De acordo com o portal de tendências WGSN, o normcore está aqui para ficar mas está, também, em mutação, dando lugar ao sportcore (ver Nostalgia dita tendências).
A expressão normcore foi cunhada pela K-Hole, uma agência de cinco artistas que os media apelidam de “millennial whisperers” (uma espécie de reveladores do que acontece dentro da cultura jovem) e é definida pelo Urban Dictionary como «uma subcultura que tem por base a adoção consciente e artificial de itens que caíram no uso generalizado, são aceitáveis ou inofensivos».
Normcore e sportcore
A moda de “ser normal”, que despontou em 2014, bebe influências da tendência agender e, também, do athleisure – daí ter desambiguado no sportcore.
O sportcore é nada mais do que uma atualização do nostálgico normcore, mas deixa-se influenciar muito mais pelo desporto, recuperando marcas da velha guarda, bem como os respetivos logotipos, e as silhuetas clássicas do denim.
«Houve uma explosão da ugly fashion devido ao normcore», confirma Collins. «Juntamente com o surgimento do Instagram e com a popularidade dos bloggers de moda, descolou. Penso que, agora mais do que nunca, os influenciadores têm que tocar nos extremos para definirem as tendências, porque as pessoas estão a adotá-las demasiado rápido», acrescenta sobre as apostas em peças de cores vibrantes e padrões contrastantes, roupas desproporcionais ou, simplesmente, banais, mas desconstruídas.
Estes fatores ajudam a que os designers que providenciam peças alinhadas com esta estética e vão alimentando essa procura conduzida pelos media sociais, vendam – como é o caso da disruptiva Vetements e da sua já longa lista de colaborações, da nova Balenciaga ou das maximalistas Gucci e Prada.
«Vivemos num mundo em que as nossas vidas estão constantemente em exposição e não queremos ser vistos vestidos como todos os outros – estamos tão preocupados com a construção de uma marca pessoal que seja única, especial e tenha uma perspetiva diferente, que quando alguém chama isso de “básico” está a deitar por terra a nossa marca e tudo o que nos esforçámos para construir», reforça Collins.
A ugly fashion é por isso diferente e, no entanto, familiar – a sua raiz está na influência da década de 1990 na indústria. É o resultado da natureza cíclica da moda e, curiosamente, do fascínio das gerações mais jovens, como os millennials e os membros da geração Z pelo revivalismo.
Contudo, tal como os anos 90 chegaram ao fim, muito provavelmente a moda feia acabará por ceder o lugar a uma nova estética e vaga de designers.
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