A qualidade e evolução da indústria têxtil portuguesa volta a marcar pontos no panorama internacional, através da valorização do produto nacional, com uma franca aposta na modernização das fábricas, depois de um período, entre 2001 e 2008, que foi demolidor para o setor e os seus agentes.
Em 2001, com a adesão da China à Organização Mundial de Comércio (OMC), aquele país inicia uma imparável ascensão na conquista de quota de mercado na União Europeia, por via dos acordos bilaterais que permitiram ao gigante oriental introduzir nos mercados ocidentais peças de roupa a preços de venda muito baixos. Este facto veio acelerar a deslocalização industrial dos têxteis e do vestuário e o seu desaparecimento da maioria dos países ocidentais. Também o alargamento da União Europeia a Leste, possibilitou a entrada de países com vasto conhecimento nesta área e a abertura a mercados de custos laborais muito baixos, como é o caso da Roménia, Polónia e Bulgária. Dois fatores que agravam o processo de desinvestimento em Portugal.
Após os anos de crise profunda interna e externa, Portugal conseguiu voltar a estar entre os países mais procurados para a produção têxtil e hoje o reconhecimento estende-se ao design e à investigação tecnológica. Longe vai o tempo em que o nosso país era um mero fornecedor. Uma das entidades que mais tem trabalhado para a mudança de posicionamento de Portugal, dentro e fora das suas fronteiras, é a Associação Selectiva Moda, entidade fundada pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) e pela Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios (ANIL), em 1991, que visa apoiar, promover e divulgar empresas e marcas portuguesas ligadas à indústria têxtil e à moda, fora de Portugal.
“Somos conhecidos por reunir uma série de faculdades, como é o caso da qualidade da mão-de-obra, levando os clientes a procurarem a nossa produção. Ao longo de muitos anos, em especial no início deste século, fatores alheios favoreceram o desinvestimento, a desaceleração produtiva, o encerramento de muitas fábricas. O resultado foi uma crise profunda levando Portugal a ter em 2009 o seu pior ano de exportações de sempre da historia da indústria. Mas 2016, felizmente, veio provar que somos capazes”, explica Paulo Vaz, diretor geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) ao Delas.pt.
A comprovar esta informação estão os recentes dados do INE que revelaram um crescimento nas exportações de têxteis e vestuário de 5%, entre o período de janeiro e outubro do ano passado. O objetivo traçado pela ATP para atingir o valor de cinco mil milhões de euros em 2016, está cada vez mais próximo – faltam ainda os dados de faturação do último trimestre para se chegar a uma conclusão. O que quer isto dizer? Significa que entre os produtos em destaque no desempenho das exportações está o vestuário e acessórios de malha (+12%); as matérias-primas de algodão, incluindo fios e tecidos (+18%); os tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou estratificados e as matérias têxteis para usos técnicos (+12%); e os tecidos especiais, tufados, rendas e bordados (+13%). Na rota das exportações estão países da União Europeia como Espanha, Suécia, Itália ou Alemanha e fora da Europa a Macedónia, México, Japão, Singapura, Marrocos, Arábia Saudita, Hong-Kong, Canadá e Turquia.
Duas das empresas portuguesas que comprovam todo este processo de renovação e adaptação às exigências competitivas nacionais e internacionais são a Twintex e a Pedrosa & Rodrigues.
“Estamos neste momento a viver um momento que privilegia o crescimento da indústria na Europa, dado o claro aumento de custo na Ásia e a instabilidade política que alguns países nossos concorrentes oferecem. A Twintex proporciona um ambiente de trabalho em que os trabalhadores podem atingir o seu potencial e crescer numa atmosfera de excelência. Mantemos um nível de integridade superior ao interagir com os nossos parceiros de negócios, ambicionando ser um Standard na Indústria da Confeção focado no serviço aos nossos clientes. Para tal, proporcionamos formação contínua aos nossos trabalhadores, em todos os departamentos da empresa e a contínua preocupação no espírito de equipa com o objetivo de oferecer os melhores níveis de qualidade”, explica Mico Mineiro, Country Manager da Twintex.
No caso da empresa Pedrosa & Rodrigues, “o que existe é a melhoria incremental da capacidade e competências para lidar com as variáveis do nosso trabalho – na prática trata-se de ‘processos’, ‘pessoas’ e ‘equipamento’. Do lado dos ‘processos’, o setor precisa de melhores práticas de gestão em toda a cadeia de fornecimento por forma a torná-la mais fiável, mais eficiente e mais sofisticada em termos de gestão. Do lado das ‘pessoas’, o sector deverá investir essencialmente na atratividade, formação a partir das empresas (e não ao contrário), aumentar progressivamente o nível de escolaridade dentro dos recursos humanos e repensar os valores das equipas de gestão e liderança por forma a garantir colaboradores motivados, que ‘vistam a camisola’, e que apreciem o quão sofisticado e exigente é este setor. Por fim, do lado do ‘equipamento’ (talvez a variável mais fácil de abordar pelos nossos empresários), manter os níveis de investimento consistentes, não só em máquinas, mas também em sistemas operacionais e instalações. Todo este parágrafo refere fatores que dependem exclusivamente dos empresários. Há outros factores igualmente importantes – internos e externos – que não dependem dos empresários do setor, nomeadamente a redução dos custos de contexto que decorrem da forma como o nosso país é governado, a relação com a banca ou a evolução da situação geo-política mundial”, explica Miguel Pedrosa Rodrigues.
Sem com isto esquecer que a Pedrosa & Rodrigues tem no seu núcleo as pessoas e os valores da empresa, elementos fulcrais para a relação com os clientes, fornecedores e colaboradores. “Entendemos que colocar as pessoas em primeiro lugar e no centro da organização será um aspeto fundamental para o futuro e sustentabilidade do negócio. Naturalmente que em paralelo teremos de ser extremamente eficazes na entrega da qualidade, preço e prazo certos, nas competências, logística, processos e controlo de gestão. Serão todos estes fatores que em conjunto e em simultâneo fazem a diferença e nos quais investimos continuamente há anos”, frisa um dos responsáveis da empresa.